quarta-feira, 13 de maio de 2009

Respirei, pausadamente, silenciando o silvo de locomotiva que de dentro me consumia o habitual sorriso com que brindo o mundo exterior.
Sem elmo ou escudo que me ocultem, subo a escadaria cujo brilho se perdeu na poalha de outros tempos, amarelecido que está o antigo fulgor pela mediocridade académica a que hoje serve de pórtico. Uma faculdade inteira que quase cabia numa caixa de sótão.
De soslaio, espreito o reflexo de mim, apenas para confrontar no meu próprio olhar a dúvida escorrendo em laivos de ansiedade.
Como voltar a percorrer estes corredores sem o antigo conforto de saber o que encontraria em cada pedaço de estuque impiedosamente esventrado, as rubricas furtivamente esgaratujadas nos tampos de mesa dos anfiteatros abandonados à sonolência estéril de fim de tarde, agitada pelo revoar de poeiras nos raios de sol que, insidiosamente, vinham furtar pensamentos, enquanto a boca do docente continuava a articular sons há muito emudecidos no olhar vítreo da plateia.

Como vejo agora quão simples é. Porque jamais voltará a ser a antiga morada.
Ilusoriamente assumindo a forma e localização que anteriormente me havia abrigado, pouco permanece da vida que a insuflava.
Um templo consubstanciado naqueles que agora se enfileiram todos os dias na dispersão de direcções e não confluem já para definir a personagem colectiva que em tempos haviam delineado, numa espiral de forças centrípetas.

Ali já nada tem o gosto de colher e comer.

Nenhum comentário: