segunda-feira, 31 de agosto de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

5./1979

o junco entrançado das cadeiras conhece a memória do corpo
este demorado tempo de ausência...sobre a cama de areia
onde o amor se desenvolve o cheiro a poejo dos lençóis

a noite vem do esquecimento da voz
persigo-te com os dedos pelo vácuo
encontro o rosto amarelecido nas fotografias...despojos
do atormentado sono...lateja-me na boca um coração de papel
dissolve-se um desastre no escuro interior dos objectos

eis a última visão do deserto..um mar triste
uma canção de abandono sobre a boca..o sonho
invadindo a vida que me enche de sede
mas vai chegar o inferno
o corpo afrouxar-se-á como o fazem algumas flores
ao cair da noite dobram-se para o fulcro morno da seiva
e cismam um sonho de ave que só a elas pertence

são horas de ter medo meu amor
cansadas horas quebradas nas mãos...horas de alucinação
estes dias abertos à corrosão do ciúme...estas janelas
derramando sémen à velocidade do surdo grito...são horas
horas de fingir que nos amámos

lentamente os dedos aperfeiçoaram a arte de pararem
sussurrantes sobre o corpo..não a deslizarem
não a percorerem o espaço da veloz insónia
as mãos redescobriram o silêncio inesgotável da escrita
praticam esse ofício muito antigo
de na imobilidade da fala tudo desejarem

Al berto