terça-feira, 3 de março de 2009

Desde tempos imemoriais que tenho este mesmo (péssimo) hábito.
Sempre que a obrigatoriedade de me preparar para um exame me bafeja com hálitos de urgência, dou comigo evolada em espirais de pensamentos,que se encadeiam como cachos em outros pensamentos ou meras evasões do intelecto para as reentrâncias mais insignificantes que povoam o meu microcosmos.
E, qual Dorothy, dou por mim a acordar longe do Kansas, eu, sem Toto, num confuso e tartamudeante compasso por uma yellow brick road a caminho, não de Oz, mas do naufrágio académico, com sapatinhos vermelhos pontuados por um lacinho. A menos de três dias do juízo final sob a forma de exame, não fiz sequer um terço das leituras essenciais. Tão pouco preparei o magnífico ensaio que deve ser depositado convenientemente na secretária do jubilado docente.
Peças de roupa que me imploram por ser passadas, louças de jantar que se interpõem no meu caminho, o drama de qualquer obssessivo compulsivo, verificações de email pela enésima vez, tudo se parece revestir de um interesse infinitamente prioritário que me afasta das teias de teorias tecidas por Boaventura e companhia, quais carpideiras do mundo sociológico que devo engolir, mais amargo que um lisaspin dissolvido em meio copo de água. mais intragável que uma couve flor.
Entrego-me ao acto de procrastinar, protelando o inadiável que , sem delongas, se abaterá sobre mim pelas 18 horas de uma sexta feira de março em que, ao contrário das outras sextas feiras dos outros meses, não me entregarei ao sono dos justos entre o Fogueteiro e Entrecampos, na cadência hipnótica da fertagus.
Jeebas, na sua infinita ironia, enviará alguém a partilhar kudurus progressivos, ou que quer que seja que chamam a tais sonoridades inoportunas, para me penitenciar pelo meu pecado na dita carruagem ferroviária.


2 comentários:

o mesmo de sempre. disse...

atençao que é minha avó ok?!.. eu acho que fazia parte da encenação.
O david Lynch é meu avô, e posso prova-lo.
gostei do texto. quando decides juntar fotos?!

shampô decapante disse...

Acho que nem Cristo descreveria pior calvário, nem Homero pior odisseia.