sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Memória alguma persiste como o olfacto. Mesmo que titubeantes, tacteando na incerteza da identificação imediata, as reminiscências impõem-se em presença de uma nota, uma fragrância que em nós ficou impressa. A evocação de um momento, de igual forma, perde acuidade num vácuo de associação olfactiva.
Sextas feiras cheiram a madeira encerada e janelas abertas de par em par. Detergentes a circular através de mãos agéis, que assumem como missão exfoliar cada partícula de matéria, cada poro de superfície, deixando um halo de ordem à sua passagem. Como se cada objecto adquirisse redobrado vigor na sua quietude inanimada.
Como cadernos em branco. Folheados, acariciados por mãos que não podem senão adorar o imaculado das promessas que permite.
Sextas feiras eram dias de me esconder no quarto partilhado, longe da brigada anti-germes. Esquecida pelos demais, podia enfim lambuzar-me com páginas e páginas, mundos paralelos aos quais acedia através de portais de edredon e almofadas.

Transporto em mim a memória de tantos dias. De todos os dias. Vivo o hoje com a imensidão do ontem.

4 comentários:

bluesred disse...

Baby, que palavras lindas!! Muito bonito, mesmo!!

Tiago Matos Costa disse...

Oh amiga devias de escrever pra Maria, a revista. É mesmo o que lá falta, uma crónica escrita assim, com esta intensidade...

aahahah

kissu!

Unknown disse...

a última frase é de génio. bisou cherie**

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.