Uma corrida tao ridícula como só pode executar alguém que já não faz exercício desde que os pacotes de açúcar ainda não traziam máximas de vida e conselhos primaveris . Cavalos a resfolegarem-me no peito em transes de pré-AVC.
Um equívocado suspiro de alívio ao ver que o comboio ainda não entrou na plataforma.
E heis que as nuvens se apartam para fazer incidir o mais etéreo raio solar sobre um supremo exemplar de perfeição da arte do calçado.
Ali estavam eles.
Não exactamente como os da foto, mas infinitamente mais cheios de promessas de loucas noites a dançar swing num qualquer Cotton Club em Harlem.
Amarelo mostarda e beiges, uma coquette fita de veludo a compor um laço sobre o peito do pé em jeito de coup de coeur.
fariam corar Marie Antoinette. Que diabos! Fariam corar Imelda Marquez.
Tentei desviar o olhar.
Mas, mais magnéticos que ferro, níquel ou cobalto, suspendeu-se-me a íris em cada passo hesitante daqueles sapatos que esperavam, como eu, a chegada do comboio que swinga entre Lisboa e a mal apelidada margem sul.
Em mim começou a esboçar-se a semente de uma ideia : e se perguntasse a provenência daquele ovo de Fabergé, aquele cristal de Lalique..?
Fui obrigada a confrontar-me com os meus demónios, até aqui tão bem guardados em caixas dentro do roupeiro, da sapateira, no sotão, na despensa e em qualquer recanto onde ainda consigo encafuá-los.
Tenho uma condição.
Que assume laivos de doença.
Um vício incurável e frequentemente de consequências dolorosas.
Sou sapatólica.
Não consigo dizer que não e voltar costas a um par de sapatos que, suplicante, me acene de uma qualquer montra.
Os de biqueira redonda assumem a dianteira no top 10.
Mas os de verniz não se deixam ficar e dão luta.
Sabrinas..atropelam-se pelo pódio.
E sapatos com polka dots riem-se do alto do efeito que sabem surtir em mim.
Assim, vi-me provocada por aquele mágico par de sapatos de swing, de ar vintage e infinitamente feminino, que insistiu em seguir-me, depois de eu me ter apressado a entrar na carruagem assim que o comboio deteve a sua marcha na plataforma.
Qual canto de sereia, endoideceram-me todo o caminho, a olhar-me de debaixo de um banco, de costas para mim, mas não menos teasers por isso.
Estuguei o passo na escada rolante, chegada à minha estação de destino para os ver, maldosos, a atirarem-me um sorriso de cantos da boca arrepanhados, enquanto se afastavam.
Mas ganhei.
Não cedi à tentaçao de perguntar a sua proveniência à portadora daquela égide de elegância.
A recuperação constrói-se assim.
Vivendo um dia de cada vez.
Resistindo à tentação que se coloca mesmo debaixo do nosso nariz.
E suspirando à lembrança daqueles sapatos amarelo mostarda/caramelo sundae.
Um equívocado suspiro de alívio ao ver que o comboio ainda não entrou na plataforma.
E heis que as nuvens se apartam para fazer incidir o mais etéreo raio solar sobre um supremo exemplar de perfeição da arte do calçado.
Ali estavam eles.
Não exactamente como os da foto, mas infinitamente mais cheios de promessas de loucas noites a dançar swing num qualquer Cotton Club em Harlem.
Amarelo mostarda e beiges, uma coquette fita de veludo a compor um laço sobre o peito do pé em jeito de coup de coeur.
fariam corar Marie Antoinette. Que diabos! Fariam corar Imelda Marquez.
Tentei desviar o olhar.
Mas, mais magnéticos que ferro, níquel ou cobalto, suspendeu-se-me a íris em cada passo hesitante daqueles sapatos que esperavam, como eu, a chegada do comboio que swinga entre Lisboa e a mal apelidada margem sul.
Em mim começou a esboçar-se a semente de uma ideia : e se perguntasse a provenência daquele ovo de Fabergé, aquele cristal de Lalique..?
Fui obrigada a confrontar-me com os meus demónios, até aqui tão bem guardados em caixas dentro do roupeiro, da sapateira, no sotão, na despensa e em qualquer recanto onde ainda consigo encafuá-los.
Tenho uma condição.
Que assume laivos de doença.
Um vício incurável e frequentemente de consequências dolorosas.
Sou sapatólica.
Não consigo dizer que não e voltar costas a um par de sapatos que, suplicante, me acene de uma qualquer montra.
Os de biqueira redonda assumem a dianteira no top 10.
Mas os de verniz não se deixam ficar e dão luta.
Sabrinas..atropelam-se pelo pódio.
E sapatos com polka dots riem-se do alto do efeito que sabem surtir em mim.
Assim, vi-me provocada por aquele mágico par de sapatos de swing, de ar vintage e infinitamente feminino, que insistiu em seguir-me, depois de eu me ter apressado a entrar na carruagem assim que o comboio deteve a sua marcha na plataforma.
Qual canto de sereia, endoideceram-me todo o caminho, a olhar-me de debaixo de um banco, de costas para mim, mas não menos teasers por isso.
Estuguei o passo na escada rolante, chegada à minha estação de destino para os ver, maldosos, a atirarem-me um sorriso de cantos da boca arrepanhados, enquanto se afastavam.
Mas ganhei.
Não cedi à tentaçao de perguntar a sua proveniência à portadora daquela égide de elegância.
A recuperação constrói-se assim.
Vivendo um dia de cada vez.
Resistindo à tentação que se coloca mesmo debaixo do nosso nariz.
E suspirando à lembrança daqueles sapatos amarelo mostarda/caramelo sundae.